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Ou sou arraçada de girafa, ou anda alguém a sonhar comigo!!

Acho que posso dizer que os dias de avestruz chegaram ao fim, pelo menos é essa a conclusão a que chego quando me olho ao espelho e depois de várias pessoas me dizerem que ando com outra cara, com um ar mais amigável, mais satisfeita com a vida, etc. Quase que tive vontade de responder que era da base (agora ando armada em gaja e de vez em quando dá-me para estas coisas mais femininas) mas, como sei que o ar de satisfação com que comecei a semana se deve a muito mais do que isso, fiquei calada.
À conta da minha boa cara ainda me perdi de riso ontem com a Leonor, aquela senhora velhinha e querida que me provocou pedras na vesícula, quando me disse que eu estava com cara de apaixonada. É óbvio que não consegui conter o riso, porque uma das razões dos dias de avestruz está directamente ligada ao facto de não me conseguir apaixonar. Infelizmente, por mais mandona e autoritária que seja, não consigo fazer valer todo o meu poder sobre o coração, mas segundo a Leonor tenho muito tempo para isso… “Não fique triste com isso, vai acontecer quando menos espera. A minha filha só encontrou o verdadeiro amor da sua vida aos 50 anos.” E eu pensei: -“Ah, bom!! Assim fico muito mais descansada!! Graças a essa notícia vou dormir muito melhor”!! (Para que conste as insónias voltaram, mas hoje descobri duas possíveis razões para isso que irei partilhar aqui mais tarde). Enfim, entre bolachinhas e poemas do António Gedeão, que ela fez questão de declamar enquanto eu tinha a cabeça enfiada no espólio do seu falecido marido, acabei por voltar para casa já de noite.
Parece absurdo, mas tirando os domingos em que volto para Lisboa à noite, já há muito tempo que não apreciava a cidade iluminada. Esta vida de escravidão de trabalho-casa/ casa-trabalho faz com que perca pequenas grandes coisas que podem fazer toda a diferença no  meu humor. Tenho saudades de andar a vaguear pela cidade sem hora para regressar a casa, da esplanada do Adamastor com vista para o Tejo, de ver a ponte, as ruas da baixa pombalina, o jardim da Gulbenkian…
Conclusão: é urgente organizar o trabalho, para além da vida doméstica, e trocar os finais de tarde enfiada em casa por lanches na esplanada… ou no Chá do Carmo a comer um scone.

Continuo com a esperança de conseguir convencer alguém a trocar a oferta dos muito apreciados chocolates da Páscoa por flores.
Ando com esta, o que é que querem que eu faça?! Apetece-me receber flores!! E volto a frisar que não precisa ser nenhum ramalhete, pode ser só uma e qualquer uma serve para desejar boa Páscoa… até pode ser daquelas roubadas à vizinha, ela não se vai importar que queiram fazer alguém feliz 😉
Uma rosa, uma gerbera, um girassol para eu plantar e colocar à janela…
Só uma florzinha, vá lá!! Eu nem sou de fazer pedidos destes à descarada, mas a minha lista de prendas de Natal publicada no facebook teve resultados tão positivos que agora resolvi experimentar aqui… Só estou a pedir uma flor para outra flor 😉 Vá lá, please, please!! (digo eu assim com olhos à Gato das Botas no Shrek II)

Os meus olhos são uns olhos.
E é com esses olhos uns
Que eu vejo no mundo escolhos
Onde outros com outros olhos,
Não vêem escolhos nenhuns.

Quem diz escolhos diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns vêem luto e dores
Uns outros descobrem cores
Do mais formoso matiz.

Nas ruas ou nas estradas
Onde passa tanta gente,
Uns vêem pedras pisadas,
Mas outros, gnomos e fadas
Num halo resplandecente.

Inútil seguir vizinhos,
Querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
D. Quixote vê gigantes.
Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes.

António Gedeão, Movimento Perpétuo (1956)

Em vidas anteriores eu devo ter sido girassol. A sério!! É a única explicação que encontro para agora passar o tempo a sonhar com imperiais na esplanada, almoços à beira mar, passeios no Parque e todo um conjunto de coisas agradáveis para se fazer aproveitando o sol. Agora só quero é estar ao sol, a lagartar, a curtir o calorzinho e até revolucionei o posto de refeição no escritório para almoçar ao sol e no fim vou para a varanda fumar um cigarrinho e fazer “fotossíntese”… sabe tão bem!!
Espero ter tempo, em todos os sentidos da palavra, para gerar muita vitamina D no próximo fim-de-semana.

Acusaram-me a semana passada de generalizar, de não acreditar em excepções no que diz respeito aos homens e de os colocar a todos no mesmo saco, que só muda a cara e a morada, etc. etc.
Pois bem, eu sei que há excepções, mas são cada vez mais raras. São tão raras que quando alguém me abre uma porta, me cede o lugar para me sentar, ou estende a mão para partilhar um mini-chocolate eu acho que não é para mim. Confesso que já não estou habituada a gestos desses, que embora pequenos são muitas vezes muito mais do que boa educação, boa índole, bom carácter, são de um bom coração. Gestos assim são uma lufada de ar fresco, dão lugar a sentimentos bons, fazem emergir esperança e vontade de acreditar que ainda existem gentlemans no universo, assim como em príncipes encantados que cativam a cada palavra e que cuidam da sua rosa.
Não me canso de lembrar esta frase: “Quando alguém se cruza no nosso caminho, traz sempre uma mensagem para nós. Encontros fortuitos são coisa que não existe”. É caso para dizer que estava escrito, não nas estrelas mas em véspera de lua cheia, que temos muitas mensagens para trocar, seja em versão sms ou musical, sobre as coisas menos boas que a vida tem trazido para junto de nós e dos que nos rodeiam, mas também sobre aquilo que nos dá alento.
Feitas as contas o saldo do fim-de-semana é bem positivo, regressei bem mais rica do que quando parti… e com uma rosa para cuidar (“Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante”).

Tenho um amigo, também leitor das minhas Palavras Dispersas, que gosta particularmente dos posts onde me exponho, onde me “dispo”, onde me revelo e insiste para que o faça ainda mais. É verdade que uma das intenções deste blog passa também por contar a minha história de forma a que outros se identifiquem com ela, que se revejam nas minhas aventuras e desventuras, mas nem sempre é fácil fazê-lo.
Vejo a minha história pessoal um pouco como se tratasse do corpo, quanto mais histórias pessoais partilho mais peças de roupa dispo, mais me exponho. Da mesma maneira que o corpo tem coisas das quais gosto menos ou das quais me envergonho, seja uma cicatriz, um sinal ou uma gordorinha aqui e alí (ou muitas, vá!), a minha história pessoal também as tem…
Ninguém fica particularmente feliz por se lembrar de coisas das quais não gosta, que a envergonham, entristecem, magoam e, mesmo que falar delas possa ser algo de libertador, apresentarmo-nos completamente nús perante o outro é, quase sempre, um processo lento, quase um enamoramento… e depois de o termos feito, depois de nos apresentarmos completamente nús perante alguém, depois de expormos todos as nossas qualidades e defeitos, depois de expormos todos os sonhos e desilusões, se depois de tudo isto formos rejeitados fechamo-nos em copas, encerramos o coração e vestimos todas as peças de roupa que encontrarmos no roupeiro e, se possível, ainda nos tapamos com todos os cobertores e mantas que existirem em casa. Construímos um mundo só nosso com cacos, com pedaços de momentos felizes, com a esperança de dias melhores… O acesso ao nosso mundo torna-se ainda mais limitado, abrimos as portas apenas aos amigos mais próximos e a alguns familiares, mas nem mesmo a eles temos coragem de nos revelarmos completamente. É mais fácil lidar com pessoas felizes do que com alguém em sofrimento, não queremos ser rejeitados, excluídos das conversas, dos planos para noitadas e saídas para café e então deixamos cair a peça de roupa que esconde a esperança de dias melhores, mostramos cara alegre, confiança, atitude, espírito guerreiro, “bola para a frente, porque atrás vem gente” e permitimo-nos ser felizes por instantes. Regressamos a casa com a sensação de que temos matéria prima para construir um mundo mais colorido, com um espaço cada vez maior para coisas boas, sentimos uma Primavera e temos vontade de largar toda aquela roupa e pintar no corpo um futuro feliz, transformar o negativo em positivo, passar de um filme a preto e branco para algo mais actual, em HD, com recurso a todas as técnicas, colorido e com um final feliz.
Quero, sonho, anseio, projecto, imagino, desejo, luto por um final feliz completamente nua… mas há peças de roupa que se tornaram quase como uma camada de pele e não sou capaz de despir…

“As lágrimas que não saem depositam-se no coração, com o passar do tempo vão formando uma crosta e paralisam-no, como o calcário se encrosta e paralisa as engrenagens da máquina de lavar.”
Susana Tamaro, “Vai aonde te leva o coração”

E ao “lavar a alma” senti um pouco mais de vida…

Para além de madrinha fantástica também sei ser uma madrinha lixada. Não vou em cantigas, birras, chantagens da treta, lágrimas de crocodilo e numa imensa lista de coisas em que a Joana sabe ser perita.
Como eu ia estar fora durante o fim-de-semana combinei com ela jantar no Domingo, mas dependendo da hora de partida para Lisboa poderíamos ter que adiar. Como eu demorei a dar notícias resolveu fazer uma birra gigante. Chorou, esperneou, disse que já não queria jantar, queria ficar fechada no quarto, que a vida dela era uma tristeza, um drama, que “a madrinha agora só quer saber de passear e não me liga nenhuma”! Ah!! Para ajudar não teve coragem de repetir estas pérolas na minha cara… e como eu gosto pouco que usem pombos correio para me darem recados o resultado foi o seguinte:
– meia dúzia de palmadas bem assentes no rabo (não trazem juízo, mas pode ajudar a manter o pouco que se tem);
– um sermão de 20min;
– sopa ao jantar (no lugar de um bem mais apetitoso hambúrguer do Mac);
– zero ovos de chocolate na Páscoa;
– exercícios extra de matemática;
– a promessa de que a prenda de aniversário (que está para breve) será de acordo com o comportamento,  ou seja, faz birras de bebézinha de 2 ou 3 anos e habilita-se uma pirâmide de encaixes ou uma bela de uma chupeta;
– um abraço GIGANTE com um recadinho: – Experimenta fazer mais alguma birrinha destas ou falar mal da Madrinha pelas costas para veres como elas te mordem!!!
Entretanto tem uma semana pela frente para remoer aquilo que fez, se não se lembrar de pedir desculpa pela cena de drama de hoje o cenário vai ficar de uma autêntica tragédia grega…sem prenda de aniversário!!!

que um dia eu iria descobrir que existe por aí muita musiquinha “pimba” e da geração morangos com a qual me identifico?! Ah, pois é bebé!! Agora ando aqui feita “rústica” a ouvir uma ou outra musiquinha dos “meninos sobremesa” no youtube… Que situação!!


às minhas palavras (tontas) dispersas, esboço um sorriso… e sinto-me mais perto de um abraço 😉

Eu sou Mulher

palavras passadas…